O que difere Ghosts dos outros curta-metragem que o Rei do Pop fez – Michael chama todos os seus videoclipes de “curtas-metragens” – são os elementos autobiográficos. Tudo que ele tem de mais profundo reside nesse fato.
Quem assistiu a Ghosts e não reconheceu elementos da vida de Michael Jackson não percebeu a dimensão essencial do filme. De fato, Ghosts fala muito mais de Michael do que suas entrevistas. Stephen King, que participou do roteiro, não foi a pessoa que deu ao curta-metragem sua extraordinária dimensão autobiográfica. Ele seria incapaz. Foi Michael Jackson, através de pequenos retoques nos diálogos, que deu ao filme toda sua profundidade sentimental.
Um espectador ingênuo e desavisado, à primeira vista, não percebe que é evidente que o confronto Maestro versus Prefeito repousa sobre a suposta ambigüidade sexual do Rei do Pop. Quando o Maestro pergunta “Vocês, crianças, não gostam quando eu faço minhas pequenas…vocês sabem?…”. Nessa hora, não é o personagem de Ghosts que fala, mas sim o próprio Michael Jackson.
Dentro dessa formidável atitude, frente à sociedade dita “normal” – na estória, encarnada pelos moradores do vilarejo -, Michael Jackson se permite ao luxo de fazer cinismo e, diante de todo o sofrimento que passou, fazer alusão ao caso Jordan Chandler. Diante de todos os pais, de toda a América bem pensante, ele pede às crianças presentes que apreciem as “pequenas coisas” que ele está habituado a fazer. Pura ironia, cinismo. Quais seriam as “pequenas coisas” a que o Maestro faz alusão?
Todo o cinismo do Maestro, o monstro esquisito que incomoda o vilarejo, se transforma em tristeza. A confiança e desenvoltura que Michael impõe ao personagem são verdadeiras. Quando o prefeito fala que “não faz joguinhos com aberrações”, o Rei do Pop argumenta que “não é necessário ser rude”, dando uma resposta infantil. Essa réplica vem de coração, é um papel que ele já conhece com experiência – o de “monstro”, “aberração”, frente ao que tablóides marrons costumam falar dele.
A primeira exibição de Ghosts remonta a 24 de outubro de 1996. Nesse dia, a MJJ Productions, empresa do Rei do Pop, organizou uma exibição VIP exclusiva para a Academia de Cinema de Beverly Hills. Depois disso, o filme começou a ser exibido antes do filmeThinner, de Stephen King – co-roteirista de Ghosts -, em uma dezena de salas de cinema nos Estados Unidos.
Essas exibições especiais, na ocasião da festa do Halloween, duraram uma semana, entre 25 a 31 de outubro de 1996. A versão de Ghosts que algumas centenas de americanos conheceram nessa época é diferente dessa que conhecemos hoje. O “Repórter Especial” vai revelar agora os detalhes que deram vida a uma nova versão do curta.
As Cores - O tratamento que foi dado as cores da edição original de Ghosts é diferente da segunda edição. Na versão original, um tom azul escuro banha as imagens. Essa colorização foi atenuada na versão final.
Efeitos Especiais - A transformação do prefeito, interpretado por Michael Jackson, que vira um monstro que se olha no espelho, é diferente nas duas versões de Ghosts. Na edição original, a cabeça do personagem se deforma bem lentamente, e essa cena é ligeiramente mais longa que na versão final. A mais assustadora das duas seqüências é a que conhecemos hoje.
Músicas - Para se ajustar a atualidade musical do Rei do Pop, uma mudança fundamental foi feita: “Ghosts” e “Is It Scary”, presentes em Blood On The Dance Floor – HIStory in the Mix, que não estão na versão original do filme, ocuparam o lugar de um remix de “2 Bad” que acompanhava as seqüências de dança. A divulgação do álbum Blood On The Dance Floor, lançado em maio de 1997, fez com que essas mudanças fossem feitas.
por Luis Fernando Longhi /MJBEATS/EDICHYS
fonte: Blog Falando de Michael Jackson
Entrevista com Mick Garris, diretor de GhostsEscrito por Michael Adams, em 14 de julho de 2009
No início de sua carreira, Mick Garris, criador da série de TV "Masters Of Horror" e diretor de adaptações de Stephen King para o cinema, como O Iluminado e A Dança da Morte, e sua esposa Cynthia, vestiram-se de zumbi em Thriller. Uma década depois, Garris passou a fazer parte da equipe que lançou Ghosts . Ele falou com Movieline sobre o desenvolvimento do projeto, trabalhando com seus formidáveis parceiros criativos e como Jackson lutou contra monstros tanto na tela quanto na vida real.
Primeiro as coisas primeiras: Como você chegou a ser um zumbi em Thriller?
John Landis já era um amigo há vários anos. Na verdade, nós nos conhecemos quando eu era um recepcionista do Star Wars original em um escritório da Universal. O escritório de John era ao lado do meu quando ele estava preparando Animal House. E Rick e sua esposa na época, Elaine, tinham sido amigos muito próximos e vizinhos para mim e Cynthia. Então, quando eles nos convidaram, nós fomos correndo. Eu era um escritor promissor, na época, fazendo publicidade para os estúdios e afins, apenas começando a escrever adaptações de livros para o cinema.
Havia a sensação de que você estava vendo a história da cultura pop sendo feita?
Sabíamos que estávamos fazendo algo especial, mas não tinhamos idéia de quão especial seria. Sabíamos que era uma dimensão muito maior do que os vídeos de música na época tinham sido, e muito diferente do desempenho habitual das coisas em 1980. Mas assistir Michael ao vivo na primeira noite que estive lá foi eletrizante. Eu me tornei um fã ali.
Você se tornou amigo de Michael Jackson, então?
Nós não nos tornamos amigos nesse momento. Mais tarde, quando eu estava filmando The Stand, Stephen King e Michael criaram um script juntos para outro videoclipe assustador - de uma dimensão enorme, mesmo em comparação com Thriller. Stephen King me recomendou para ele, e é aí que eu realmente conheci o Michael como indivíduo. Nos tornamos amigos através dessa experiência.
O que você acha que Michael queria alcançar com Ghosts?
Michael queria fazer o maior e mais assustador filme musical já feito. Bem, eu não sei se foi isso que aconteceu, você não pode ser realmente assustador neste contexto, mas é enorme, a música e a dança são excelentes, e é absolutamente o espetáculo. E ele definitivamente tem o seu ponto de vista. Esse tema do estranho banido que ele e King criaram foi importante, e o foco foi mantido através de várias encarnações [dos personagens].
Como você se envolveu, e como foi a colaboração entre você, Michael, Stan Winston e Stephen King no trabalho?
Eu era, na verdade, o diretor original. Ele foi iniciado em 1993, e eu trabalhei nele durante a pré-produção e duas semanas de produção. Ele ficou parado por três anos antes de ser retomado com Stan Winston, que estava fazendo os trabalhos de efeitos quando eu estava dirigindo. Eu o recomendei para terminar as filmagens quando estas recomeçaram, porque eu estava prestes a filmar "O Iluminado". Então sim, eu estava muito no set. Mas eu não estava lá quando a continuidade da produção ocorreu em 1996. Eu recebia ligações à meia-noite de Michael, que estava tão apaixonado por finalizá-lo, torná-lo especial. Ele e Stan tinham se tornado amigos desde quando eles fizeram "The Wiz" juntos.
No início, ele e Stephen fizeram o roteiro juntos, e eu não estava a par do que se passou em seguida. Foi quando foi dada a luz verde [após a aprovação dos custos do projeto] que Michael, eu e Stan nos reunimos durante horas a fio, planejando os efeitos complicados, assim como a música e a narração. Mas começou como algo completamente diferente. Ninguém sabe disso, mas era para ser originalmente um vídeo para promover [o filme] "Addams Family Values". Na verdade, Christina Ricci e o menino que interpretou Pugsley, estavam nele. Filmamos durante duas semanas e nunca conseguimos os números musicais. Era muito caro e ambicioso. E quando o chamado "primeiro escândalo" aconteceu, foi quando estávamos filmando. De repente, Michael estava fora do país, o estúdio já não queria ele para ajudar a promover o filme.
O que significa, para você, que Stan e Michael agora tenham partido?
É incrivelmente triste, é claro, e realmente trágico. Stan era um homem muito talentoso e engraçado e simpático. Mas eu estava mais próximo de Michael, passei mais tempo com ele. Na verdade, partiu o meu coração ver o que aconteceu com ele. Ele sempre foi muito frágil, tinha muita dificuldade para dormir. Lembrou-me muito a canção de Don McLean sobre Vincent Van Gogh[ver vídeo legendado abaixo]. O mundo pode ser vil, e Michael não tinha um osso vil nele. Muito vulnerável e doce. E o que a maioria das pessoas não percebem é quão inteligente ele era e o quanto especialmente engraçado ele poderia ser. Um cara muito inteligente, explosivamente talentoso.
Será que Michael tinha esperança de Ghosts sair tão grande quanto Thriller?
Michael sempre parecia ter esperança de fazer algo que seria enorme. Ele pensava grande, porque toda a sua vida parecia estar cercada por magnitude. Eu não sei como suas esperanças estavam em termos de comparação com Thriller, mas sei que ele pensou que seria muito especial.
Ghosts e Thriller o mostram como um carismático, um monstro "brincalhão". Você acha que ele ficou se divertindo com essa reputação, mesmo quando a mídia se voltou contra ele?
Ele era muito brincalhão com essa imagem, embora, quando a imprensa tornou-se vil, ele definitivamente foi ferido por isso, e recuou e se tornou mais recluso. Mas, embora fôssemos amigos, eu não via o tempo todo. Um par de anos pode ter se passado sem ver ou falar um com o outro, mas quando o fizemos, nós sempre tivemos um bom tempo juntos.
Onde você estava quando soube que ele morreu? O que você imediatamente pensou e sentiu?
Eu estava dirigindo meu carro quando ouvi no rádio que ele tinha sido encontrado inconsciente e levado às pressas para o hospital. Fiquei aturdido, é claro, como todos. Depois, cerca de uma hora mais tarde, quando eu ouvi rumores de que ele tinha morrido, eu simplesmente não podia acreditar. Demorou uns dias para a ficha cair. Talvez fosse inevitável, eu não sei. Eu só sei que ele era frágil, sensível e um cara incrivelmente doce e generoso. Partiu meu coração, assim como partiu o do mundo. E eu realmente senti por seus filhos, que são incríveis e puros de um jeito que você não pode imaginar. Pelo menos, eles eram quando eu os vi pela última vez, uns anos atrás.
Como alguém que o conhecia, qual a sua reação às especulações 24 horas por dia e a cobertura da mídia?
Eu não sei, eu odeio especular. Eu sei que ele tinha seus demônios, medos, fragilidade. Eu realmente não vi uso de drogas ou qualquer dessas coisas. Não era que um relacionamento íntimo. Tudo o que sei é que ele era alguém que eu amava muito, e tive o privilégio de conhecer e trabalhar, e eu sinto falta dele. Mesmo que eu não tenha visto ele por anos, sempre parecia que iríamos nos juntar novamente em breve para falar sobre filmes, e rir, brincar e nos divertir. Fico tão triste de que isso não vá acontecer novamente...
Você viu a solidão e a tristeza que ele alegava ter sido sua companheira constante?
Um dos meus primeiros encontros com ele foi em Nova York, onde ele tinha um apartamento de luxo no Trump Towers. Ele estava muito solitário. Ele me levava até a janela e apontava para a Fifth Avenue lá embaixo e me dizia que daria tudo para poder apenas andar por lá e ir para as lojas, mas não podia. Fui visitá-lo em Orlando, e fiquei surpreso ao descobrir que eu era o único, além da sua equipe, que estava junto com ele. Não havia ninguém além de nós por dias. Eu não acho que ele tinha um monte de amigos próximos, pessoas que não queriam algo dele.
Sua memória mais duradoura dele será ...?
Fazendo ele rir. Quando Michael ria, quando você levava ele mais e mais a apenas rir por trás da mão, era uma visão para se ver. Ele apenas adorava rir, e era divertido provocá-lo com suavidade. Talvez uma das minhas lembranças favoritas tenha sido no set de Ghosts: nós gravamos um take, e se eu quisesse outro, eu iria fazer a voz de Bullwinkle [personagem de uma série de desenhos animados] e dizer: "Desta vez, com certeza!" A primeira vez, ele apenas riu e riu e riu. Então ele continuaria a pedir, mesmo após um bom take: "Mick, faz Bullwinkle!" Isso é como eu gosto de lembrar dele.
Deseja que Ghosts tenha um lançamento em DVD, agora?
Espero que sim. Foi extremamente caro, e nunca lançado nos Estados Unidos. Ele pagou por ele por fora, de seu próprio bolso, também. Então eu não sei quem é o dono. Mas eu acho que as pessoas iriam adorar. Ele mudou muito do momento que eu trabalhava nele até o tempo ele foi finalizado, mas é completamente uma realização. Eu adoraria vê-lo disponível. A única cópia que eu tenho foi a que eu encontrei em uma loja de música em Hong Kong, no velho formato VCD. Ele merece coisa melhor.